A noite avança
negra no asfalto molhado
Na multidão que se esfumaça
busco o seu sorriso
temo jamais vê-lo de novo
Sinto tua falta e dos tempos
tão doces, distantes e tão presentes
corrói-me cá dentro imaginá-los perdidos.
(Na boca da noite se perdem
jovem saltitantes
inocentes
sensuais
nos bares, lanchonetes e salões
triviais lugares-comuns
que outrora frequentávamos também).
Errei contigo. Com certeza
por desejar-te tanto.
Agora (enquanto a chuva lava as calçadas
e os carros
impassíveis
engolem lépidos a noite)
penso se não te magoei
com minha precipitação. (Irreverssivelmente?).
Onde os momentos
esparsos
tênues
escassos e belos?
O copo de cerveja
espera
lábios que não sentirei mais.
(A garçonete me sorri.
Devolvo-lhe um sorriso amarelo.
Aos borbotões reparecem
imberbes boêmios
ávidos de dúvidas
cheios de certezas
alcoolácidossonhos e
num átimo somem nos táxis
nos onibus, nos morros).
Teu sorriso se esvai
com as últimas estrelas.
O dia explode
vermelho como hecatombe.
Desfaz-se em pó
os últimos vestigios de esperança.
Estou só
impotente diante de um copo
vazio
comiseradamente solidário.
01/97