domingo, 30 de janeiro de 2011

Na Noite

A noite avança
    negra no asfalto molhado
Na multidão que se esfumaça
    busco o seu sorriso
    temo jamais vê-lo de novo
Sinto tua falta e dos tempos
     tão doces, distantes e tão presentes
     corrói-me cá dentro imaginá-los perdidos.
(Na boca da noite se perdem
      jovem saltitantes
      inocentes
      sensuais
      nos bares, lanchonetes e salões
      triviais lugares-comuns
      que outrora frequentávamos também).

Errei contigo. Com certeza
       por desejar-te tanto.
Agora (enquanto a chuva lava as calçadas
       e os carros
       impassíveis
       engolem lépidos a noite)
        penso se não te magoei
        com minha precipitação. (Irreverssivelmente?).
Onde os momentos
        esparsos
        tênues
        escassos e belos?

O copo de cerveja
         espera
          lábios que não sentirei mais.
(A garçonete me sorri.
Devolvo-lhe um sorriso amarelo.
Aos borbotões reparecem
           imberbes boêmios
           ávidos de dúvidas
           cheios de certezas
           alcoolácidossonhos e
           num átimo somem nos táxis
           nos onibus, nos morros).
Teu sorriso se esvai
           com as últimas estrelas.

O dia explode
           vermelho como hecatombe.
Desfaz-se em pó
           os últimos vestigios de esperança.
Estou só
           impotente diante de um copo
           vazio
           comiseradamente solidário.


01/97


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

RETICÊNCIAS...

  

A minha intransigência com a vírgula__ falsa e fugidia__ é que ela nunca interrompe uma frase.
Muitas vezes a escamoteia; às vezes a sublima. Rebelde sem causa nunca se satisfaz, intrometendo-se em tudo quanto é texto.  Ela se faz nas esquivas... Aborrece-nos com suas dúvidas e inquietações.
Porém, seu primo, o ponto-e-vírgula, é mais conciso, porém sua dubiedade sempre o contradiz (e poucos sabem usá-lo).
Minha professora do ginásio __ e aqui mereceria um parênteses__ ficou toda sem graça quando perguntei quando deveria usá-lo em minha redação.
E mata, se o deixarem, o introdutório dois-pontos.
Este sempre solícito e cerimonioso, ao contrário do outro, não é supérfluo: pode substitui-lo e também, o parêntese e o duplo travessão.
Finalizando: o ponto final, por sua de finitude, sempre me surpreendeu com sua empáfia e determinação. Deixou aos seus irmãos, a refletiva interrogação e a dadivosa e exuberante exclamação, a tarefa de completá-lo. Mas por causa dele, por teimosia ou perspicácia, nunca abdiquei das reticências...