quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

As lutas de classes e golpes no Brasil


Hoje, é comum , políticos de várias tendências e partidos citar o “Estado democrático de direito” referendado pela Constituição de 1988, como resistência ao totalitarismo. Mas nem sempre foi assim. A segunda guerra mundial dividiu o mundo entre países “democráticos ” e países ditos “comunistas”. O Leste X Oeste. De um lado os países sobre a influência da URSS e do outro os países sobre a tutela da USA e mais que isso, foram divididos militarmente entre o Pacto de Varsóvia, dos comunistas e a OTAN, dos países ditos liberais. Tratado só possível pela beligerância que separou não só países como civilizações e mais estupidamente: Estados e até famílias, como o que ocorreu na Alemanha com o muro de Berlim, só derrubado em 1989.
A democracia só faz sentido, hoje, se der à todos o direito de ser julgado com amplo direito de defesa e o mais fundamental, dar garantia de escolha, individualizando os direitos.
A guerra fria calou, de ambos os lados, todas as vozes e dividiu o mundo na dicotomia das armas. E pior: com bombas nucleares que só poderiam manter a paz pelo terror. Caçar comunistas, como declarar como ilegais seus partidos, tanto no Brasil, como na América Latina _quintais americanos_ tornou-se regra de uma só ideologia. Ideologia imposta a nações e povos, sem dar chance de questionamentos.
O imperialismo pós II Guerra inovava no sentido de quebrar a resistência do país ultrajado sem perguntar ao seu povo se seria favorável a tal doutrinamento. Não seria implantado por invasões ou guerras, mas pela complacência dos governantes dos países nativos, que viam em sua geopolítica uma necessidade. Para o Estado Novo e para os militares, que assumiram o poder em 64, não havia antagonismo entre a guerra contra o comunismo e a vontade de fazer do Brasil uma grande potência. As lutas de classes, então, são sufocadas no mundo pelo nacionalismo das mais diferentes matizes.
Confirmada a divisão do mundo entre comunistas e liberais o caça as bruxas foi ativada pelo mundo afora. Em 1966, já dentro do Regime Militar, o Ato institucional n. 2, limitou as garantias e os direitos individuais e dissolveu os partidos políticos. De março de 1967 até 13 de outubro de 1968, com o AI-5, o Brasil viveu sobre a Constituição de 1967, promulgada por um Congresso controlado pelos militares e que queriam dar ao golpe ares de legalidade e normalidade.
Vale lembrar que o golpe gestado pelas elites e consagrado pelos tanques da Redentora, começou a ser gestado com o suicídio de Getúlio Vargas, negando-se a renunciar. Ou seja, só saímos de fato do Estado de Exceção, depois da Constituição de 1988, finalmente uma Constituição democrática. Os partidos comunistas só foram legalizados em 1985. O que prova como a nossa democracia é frágil e de vida curta.
O livro Ideologia de Segurança Nacional do Pe. Joseph Comblin traz em sua introdução “O fato que mais conhecemos sobre os sistemas militares latino-americanos é sua permanente prática de violação, quase institucionalizada, dos Direitos do Homem, levando ao desaparecimento das liberdades democráticas e dos direitos individuais . (...) Essa ideologia chama-se : Doutrina da Segurança Nacional”.
O fim dos regime militar no Brasil não significou por si só, o fim da Ideologia de Segurança Nacional e seus entraves e sua geopolítica perduram não só na cabeça de militares e das elites, mas estão enraizados em parte significativa da população e de muitos de seus representantes parlamentares. Mas é no Judiciário, o mais conservador dos poderes, que se dá os maiores entraves à democracia.
O sofisticamento do golpe parlamentar desfechado contra o governo Dilma, apesar da ausência, ainda, dos tanques nas ruas, começou em 2006, com o processo do "mensalão", que condenou inocentes e culpados  e só não foi deflagrado na época pela liderança e popularidade inconteste do presidente Lula. Mas a semente já estava plantada e o Judiciário já sabia o seu papel. Com a minoria parlamentar de Dilma no Congresso e a massa manipulada nas ruas em 2013, o desfecho dificilmente seria outro.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

A Desconhecida Conexão Cósmica


Para criar a primeira célula
dita humana, um espermatosóide
carregando 23 cromossomos
faminto e alucinado
recompõe toda epopeia evolucionária
_ graças ao óvulo
imenso e benevolente
também com outros 23 cromossomos
disposto a saciá-lo e
deixa-se unir-se a ele_
disputando com outros milhões
um projeto de ser vivo.

Alavanca-se depois, miríades de moléculas
que nem se davam conta de serem compostas
de carbono, hidrogênio, oxigênio
nitrogênio, fósforo e enxofre
herdados de estrelas que você mal vê.
O processo todo formou-se em células
que se duplicou em trilhões
e  sem ter consciência disso
formou você
pobre ser ignorante de tudo.
Daí, criar-se fábulas e deuses
foi a coisa mais fácil do mundo!


Fevereiro/2015

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

A Origem da Vida


Stephen Hawking, em seu livro o Grande Projeto nos narra a seguinte lenda: “O povo bacuba da África Central, conta que, no princípio, havia apenas escuridão, água e o grande deus Bumba. Um dia, Bumba, em consequência de uma dor de estômago, vomitou o Sol. O Sol secou a água e apareceu a terra seca . Mas as dores de Bumba continuavam e ele vomitou ainda mais . Assim surgiram a Lua , as estrelas, e então alguns animais _ o leopardo, o crocodilo, a tartaruga e finalmente o homem.
Na Bíblia judaica-cristã lemos: “No dia em que o Senhor Deus fez o céu e a terra, ainda não havia na terra nenhum arbusto do campo e a vegetação ainda não tinha brotado, porque o Senhor Deus não havia feito chover sobre a terra, nem havia ninguém para cultivar o solo. Mas subia um vapor da terra e umedecia toda a superfície do solo. Então o Senhor Deus formou o ser humano do pó da terra, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e ele tornou-se um ser vivo”.
Os evolucionistas e os astros-físicos têm explicações muito mais interessantes:

“A origem da vida foi a origem da verdadeira hereditariedade; poderíamos dizer a origem do primeiro gene (a mais ou menos 4,5 bilhões de anos). Apresso-me a dizer que, quando digo primeiro gene, não me refiro a primeira molécula de DNA. Ninguém sabe se o primeiro gene era feito de DNA, e eu aposto que não era. Como primeiro gene quero dizer o primeiro replicador. O replicador é uma entidade, por exemplo, uma molécula , que forma linhagens de cópias de si mesmo. Sempre haverá erros nas cópias. E assim essa (primeira) população adquirirá variedade. (…) A origem de um replicador deste tipo não foi um exemplo provável, mas só teve que ocorrer uma vez. Dali por diante, suas consequências foram automaticamente autossustentáveis, e eles daí se originaram e pela evolução darwiniana, todas as formas de vida (…) O que é único no primeiro replicador, aquele que desencadeou a vida, é o fato de que ele não tinha nenhum suprimento pronto de coisa alguma que tivesse evoluído, sido projetada ou educada. Funcionou imediatamente , ab initio, sem precedentes e sem outra ajuda que não as leis comuns da física.
Uma poderosa fonte de ajuda para uma reação química é um catalisador, e seguramente , alguma forma de catálise esteve presente na origem da duplicação.(...) Catalisadores, são em geral grandes moléculas de proteínas, chamadas enzimas(...) Catalizadores, por definição não são consumidos na reação química que promovem, mas podem ser produzidos. (...)Uma reação autocatalítica não começa facilmente , mas, uma vez desencadeada, desenvolve-se por conta própria. (…) A hereditariedade (então) como uma reação fortuita de um processo auto-catalisador, (...)disseminou como um fogo, levando por fim a seleção natural e tudo que se seguiu”.
A grande história da Evolução, pags 647 e 648- Richard Dawkins.

*
“Os astrobiólogos nos dirão com honestidade que esta questão não tem uma resposta simples ou aceita de modo geral. (…) Seja qual a característica que especificamos para separarmos a matéria viva da não viva sobre a Terra. A vida se reproduz? O fogo também. A vida evolui para produzir novas formas? Isso também se observa em certos cristais que crescem em soluções aquosas. (...) No entanto, a vida tem conjuntos de objetos que podem se reproduzir e evoluir (...) mas, para serem qualificados como vida devem se evoluir em novas formas com o passar do tempo.
A maioria dos paleobiólogos acredita que a vida deve ter surgido pelo menos há três bilhões de anos e provavelmente há mais de 4 bilhões de anos (…) Por uma estranha coincidência, a época ausente no registro geológicos que inclui a origem da vida também abrange a assim chamada era dos bombardeamento, que cobre aquelas primeiras centenas de milhões de anos críticos depois da formação da Terra (…) Como esses impactos afetaram a origem da vida? Os biólogos nos dizem que talvez eles tenham desencadeado tanto o surgimento como a extinção da vida sobre a Terra, não apenas uma vez, mas várias vezes. (…) O bombardeamento cometário (que trouxe do espaço todos os elementos necessário a vida: hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, uma menor quantidade de fósforo, e principalmente o carbono, entre outros ) parece , portanto, ter fornecido para a Terra parte da água de seus oceanos e o material com que a vida podia começar”.
Origens: catorze bilhões de anos de evolução cósmica; pags: 245 a 247 – Neil deGrasse Tyson.