A noite avança
negra no asfalto molhado
Na multidão que se esfumaça
busco o seu sorriso
temo jamais vê-lo de novo
Sinto tua falta e dos tempos
tão doces, distantes e tão presentes
corrói-me cá dentro imaginá-los perdidos.
(Na boca da noite se perdem
jovem saltitantes
inocentes
sensuais
nos bares, lanchonetes e salões
triviais lugares-comuns
que outrora frequentávamos também).
Errei contigo. Com certeza
por desejar-te tanto.
Agora (enquanto a chuva lava as calçadas
e os carros
impassíveis
engolem lépidos a noite)
penso se não te magoei
com minha precipitação. (Irreverssivelmente?).
Onde os momentos
esparsos
tênues
escassos e belos?
O copo de cerveja
espera
lábios que não sentirei mais.
(A garçonete me sorri.
Devolvo-lhe um sorriso amarelo.
Aos borbotões reparecem
imberbes boêmios
ávidos de dúvidas
cheios de certezas
alcoolácidossonhos e
num átimo somem nos táxis
nos onibus, nos morros).
Teu sorriso se esvai
com as últimas estrelas.
O dia explode
vermelho como hecatombe.
Desfaz-se em pó
os últimos vestigios de esperança.
Estou só
impotente diante de um copo
vazio
comiseradamente solidário.
01/97
Que texto lindo e de uma precisão cirúrgica nas palavras. Acho que esse foi o melhor texto que li de seus escritos. Agradeço sua visita ao meu blog, pena que não conseguiu ver o filme, aliás, um belo filme. Faço uma sugestão: Se puder ler um texto que escrevi no meu blog chamado; Consciência, ficaria muito feliz se pudesse ler. Obrigado por partilhar o texto de Saramago, na verdade vejo que esse autor condiz muito com meu ponto de vista político, e partilho das mesmas ideias que ele. Esse seu texto "na noite" me deu uma angústia, mas gostei muito de ler ele, fico muito feliz em ter visto hoje.
ResponderExcluirForte abraço e parabéns!
Elvis,por favor, texto lindo é o do Saramago. Álias, tenho vários livros dele e difícil saber se existe um melhor que outro. Lerei sim a " Consciência" e lhe darei retorno. Obrigado. Abraços. José Araujo
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