quarta-feira, 24 de julho de 2013

Escuta, Coxinha!

Você que gritou não violência e chamou os seus amigos de baderneiros, escuta.
Você não estava brigando por vinte centavos, né?
Nem pela melhoria dos transportes públicos, já que antes nunca pensou em sair do seu carro, nem para diminuir o congestionamento.
Só via ônibus lotado pela janelinha, né?
A periferia agradece sua comiseração, sua ajuda e entusiasmo.
Que susto você levou, heim! Quando viu que tinha bandidos saqueando lojas e você tinha confundindo tudo.
É, deve ter lamentado por ter esquecido sua faixa: “Redução da maioridade penal”. Mas escuta: Quantas vezes você chamou de agitadores aqueles que faziam greves? Quantos lhe ensinaram que eram baderneiros aqueles que lutam pela reforma agrária, ocupam terras ou/e empunham bandeiras vermelhas?
Escuta coxinha, para não confundir mais coisas.
Você sabia que também em um estádio de futebol, onde vaiaram a Dilma, seus pais ou avós, aplaudiram de pé o general Médici?
Tragicômico, né? Idêntica situação, só que de sinais trocados.
Será que eles sabiam onde Dilma e seus companheiros estavam?
Sabiam sim, e até hoje não a perdoam por isso.
Como nada lhe disseram você grita “guerrilheira”, como se isso a ofendesse.
Eles não disseram também que, graças às lutas daqueles tempos (e não era balas de borracha, veja) você tem sua manifestação pacífica, entusiasmada e bem comportada. Legal, né?
Não. Eu tenho medo de você, coxinha. Não de sua aparência física, pois, mal o conheço. Tenho medo de suas ideias e o que podem fazer contigo.
Como nada lhes disseram e tudo o confunde, tenho medo de que por sua ingenuidade, por sua ânsia de participar e mostrar sua revolta, acabe sendo manipulado e ajude a dar vida ao monstro que tantas pessoas se sacrificaram para derrubá-lo, há tempos atrás.
Mas, vou lhe dar meu voto de confiança, sei que saberá agir com sabedoria.

P.S.: Isto foi uma pequena paródia ao “Escuta, Zé Ninguém!”, de Wilhelm Reich. (Ah! ele não era nazista, não. Aliás, foi morto pela Gestapo...caso você não saiba, é claro).

José Araujo

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