quarta-feira, 24 de julho de 2013

A verdade ganhará as ruas

                A juventude que sai às ruas neste inverno de 2013, é prova que vivemos uma democracia estável. Sua manifestação por mudanças é salutar e digna de todas as loas. Os excessos de ambos os lados_ manifestantes e aparatos dos governos estaduais_ são ainda névoas de um passado ditatorial não esquecido.               
               Novas práticas precisam ser elaboradas para que não haja mais a desorientação nem do governo, nem por parte daqueles que clamam por novos rumos na vida política do país. Reivindicações conflitantes e a nítida falta de lideranças deixam claro a necessidade do aprofundamento das mudanças por quais todos lutamos.
                Se há os descontentes com o Governo Federal, há também os que se posicionam contra governos estaduais e municipais. Tudo isso é mais do que saudável. Como escreveu Nelson Rodrigues: “A unanimidade é burra”.
                O que é inadmissível é a visível infiltração da ultra-direita nos protestos (algumas passeatas deixariam confortável até Plínio Salgado e a TFP) e sua postura golpista. A recente história brasileira mostra-nos que não foi o PT que inventou a corrupção e nem a saída de Dilma poria fim a esse estado de coisas. Pelo contrário, sua postura sempre se põe avessa a essas práticas.
                A corrupção existe em qualquer sistema e em todas as partes do mundo, mas é no capitalismo, um sistema que idolatra o lucro, que com mais facilidade é disseminada em seu meio. Até a sociedade a assimila e reflexo disto está em seus representantes eleitos no parlamento. Mas suas garras avançam por todos os poderes: executivo, legislativo e judiciário.
                A crise é sistêmica e como tal deve ser enfrentada.
            Uma parte dos jovens tem como exemplo de corrupção no país o episódio conhecido como “mensalão”. E é natural se considerarmos que em sua maioria tornaram-se adultos com o PT no governo federal. Esquecem ou querem que eles esqueçam que foi heróis como José Dirceu, Genoíno entres tantos outros, que lutaram na juventude arriscando suas vidas contra a repressão e a ditadura e, graças a todos eles é que hoje podemos ver a democracia ser consolidada no Brasil.
                 Lógico, nem por isso tem o direito de serem corruptos. Por outro lado, nem sempre o que chamamos de justiça significa imparcialidade e a prova mais contundente disso é o julgamento do tal “mensalão”.
                  Confesso não ter lido as milhares de páginas que compuseram o tal processo.  Seria-me impossível. Mas assisti pela mídia, com incansável paciência, a transmissão deste que foi o maior “reality show” da televisão brasileira e pelo visto dificilmente voltará a acontecer se mudarem os protagonistas, em qualquer outro ato semelhante.
                   Ao longo daquelas semanas cheguei à conclusão que, além da retórica dos senhores juízes e dos depoimentos constantes nos processos, o tal “mensalão” (compra de votos de parlamentares) nunca existiu. Pelo menos não como o seu denunciante e beneficiário (Roberto Jefferson), na época, revelou. O que houve foi a comprovação do caixa dois, do qual se aproveitaram a quadrilha de Marcos Valério e alguns partidos da coalizão (PTB, PP, PL, hoje PR). Se o caixa dois passa a partir de agora a ser crime (já que a Justiça Eleitoral assim não o definia) é algo a ser louvado e mais que isso ser cobrado de todos os partidos e coalizões: que na Reforma Política seja aprovada o financiamento público das campanhas e a banição de todo financiamento privado, pois é isso o que gera os conluios e os acordos espúrios com banqueiros e empreiteiras, ou seja: os corruptos e os corruptores. Porém, nada mais consistente viu-se até agora.
                      Agora, nesse episódio, algumas coisas tem que ser avaliadas: 1º: A condenação de José Dirceu foi muito emblemática. Podemos pensar que serviu para responder a mídia ávida em desmascarar o PT condenando-o por ser ele o maior líder do partido, fora Lula; este que não poderia ser atingido sem desfraldar uma séria crise institucional.
                  2º: Dirceu foi condenado por suposição, ou seja, juízes alegaram que: “Era inconcebível que o tesoureiro do PT (Delúbio Soares) tivesse a capacidade intelectual de engendrar tal esquema”. Condenaram-o (Dirceu) por “ouvir dizer, porque alguém citou o seu nome e coisa e tal”, nada materialmente foi comprovado, nem por gravações, nem por suposta lavagem de dinheiro. Nada! As contas de Dirceu e de Genoíno, foram vasculhadas sem nelas acharem nenhum centavo ilícito. Pela primeira vez na Justiça brasileira e diga-se, mundial, réus foram expostos e condenados sem prova material nenhuma.
                      Repito: o caixa dois tem que ser execrado da política brasileira, mas o que levou o PT ser tão apezinhado, fora o fato de ter conseguido eleger um operário para Presidente do Brasil ou, depois colocar no mais alto poder do Estado uma guerrilheira que arriscou sua vida e sua integridade para combater a ditadura e sobreviver? E mais ainda: impedirem que tais representantes da elite voltassem ao poder?
                       O julgamento do chamado “mensalão” provou que certos membros do Judiciário não são tão imparciais como deveriam e que a reforma política brasileira está mais que atrasada.
                      Nunca na história brasileira o povo esteve de fato tão próximo de poder. Nunca se criou tantos mecanismos para por a sociedade organizada (sindicatos, associações, pastorais, movimentos dos sem-terras, indígenas e outros ) para cobrar e se inserir no governo. Temos que mudar o Brasil? Sim. Mas sem retrocessos. E Dilma ao substituir um líder carismático que pôs na governabilidade o seu foco, mesmo sacrificando os ideais socialistas do partido, teve que fazer escolhas nem sempre fáceis. É claro que isso gerou certos acomodamentos e a nova expressão política, os jovens, alheios a todo esse processo, tinham e deveriam se manifestar.
                Novas lideranças são necessárias para que a estrutura do poder não se deteriore e novos avanços morais e estruturais possam ter lugar numa sociedade em avanço. A crise _ e toda crise é benéfica _ cobrará o seu o preço, mas se o preço a pagar for à consolidação das lutas populares que coíbam as injustiças e diminuam as distâncias das classes, esse preço sairá barato. A história que tudo avalia saberá consolidar esse processo. E os antigos donos do Brasil jamais retornarão.                  

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