Foi nas terras que margeiam os rios Tigres e
Eufrates conhecidas como Mesopotâmia, território de muitas
disputas e invasões, pois porto generoso para muitos povos nômades que viam em suas terras férteis_ irrigadas por esses grandes rios_ o
fim de suas peregrinações e ali tentavam se fixar; que sumérios,
caldeus, hititas, babilônios, assírios erigiram seus impérios e os viram desabar. A roda inflexível do tempo, com
suas engrenagens lubrificadas pelo sangue de milhares de guerreiros,
sempre é alheia a amplidão das conquistas e a intensidade de seus
apogeus.
Foi nesse berço do mundo, cenário de antigas
civilizações, que os hebreus em debandada _ depois que Ciro II os libertou dos babilônicos_ viram a possibilidade de
terminar com suas agonias errantes, unir suas
pequenas tribos e orientá-las rumo à
Palestina, aonde edificariam uma das mais exuberantes cidades do mundo
antigo com o seu suntuoso templo reconstruído: a bela
Jerusalém.
Não
foi somente a paisagem que o povo hebreu que em nome de Iawhé, na perambulação em busca
da terra prometida (a
terra de pão e mel), modificou. Aos poucos, no
decorrer dos séculos, à medida que moldava a sua própria religião filtrando-a de seus matizes mesopotâmicas e purificando-a com sua fé
inquebrantável e fanática abnegação, acabou por disseminar a
crença num único Deus às tribos vizinhas e, com o decorrer dos
séculos, por grande parte da humanidade. Só uma religião poderia
reunir aquele povo rústico e suas tribos nem sempre pacíficas e
esboçar os elementos basilares de uma nacionalidade. E assim o fez
com toda rigidez, recheada de preceitos morais e jurídicos.
Se
tais ordenamentos não tinham a delicadeza filosófica dos gregos,
nem a precisão dos códigos romanos, serviu e foi suficiente para
preservá-los
como nação, mesmo no meio de invasões, jugos e tantas dispersões à que
foram submetidos na terra de Canaã.
No
entanto, sua crença não passou incólume a ídolos e os teve em
diferentes épocas e antes que passassem pelo crivo dos profetas
legisladores como Ezequiel, Melquias e Isaías, deuses babilônicos,
assírios e divindades caldeias
conviveram com Iawhé na mente e no espírito daqueles pastores
descendentes de Abraão _ e fizeram parte de seu credo_ mesmo depois
que o ensandecido Elias, enfurecido com a idolatria do povo pusesse
abaixo a estátua de Baal.
A crença em um Deus, senhor do Bem e do Mal, só
aos poucos lhes foi inculcada, tomada de empréstimo da doutrina de
Zoroastro da invasora Pérsia já em decadência, que viu sua
hegemonia sendo tragada pelos guerreiros gregos. A esperança em um
Messias e seu reino não terreno despontaria séculos mais tarde nos
passos do mitraísmo, seita também zoroástrica que antes dela
também teve o seu crucificado, recepcionou o Império Romano e abriu
as portas para Aquele que viria a ser negado pelos próprios
judeus.
O
espírito guerreiro dos filhos de Davi se sucumbiria diante do
conquistador romano _ tripudiado pelas autoridades judaicas_ que temendo represálias e pretendendo manter o que lhe restara de
privilégios e preservar o culto e suas sinagogas, renderam-se às
exigências de um Império que manteria as tradições dos vencidos
em troca da extirpação de qualquer tentativa de emancipação e
rebeldia. Porém nem todos aceitaram de bom grado a conivência
servil dos fariseus, nem o colaboracionismo dos saduceus. As
estradas, então, foram ficando pontilhadas de cruzes, evidenciando
que não se deveria duvidar da intolerância romana. Na sua expansão o Império Romano tratava de perpetuar sua dominação sobre os povos dominados em dois sentidos: exigindo obediência e a submissão guerreira dos adolescentes masculinos dos povos dominados _ raptados de seus pais_ e tirando a virgindade de suas donzelas. O Império assumiria assim total supremacia sobre seus servos, espiritual e geneticamente.
Na reviravolta da História, Roma, sitiada pelos bárbaros, clamava por uma nova religião que unificasse o Império decadente. O cristianismo, então, nascido no Oriente, assimilaria os ritos romanos, impor-lhe-ia um novo calendário com novos mitos e contribuiria assim para a decadência romana que levaria o Ocidente à Idade das Trevas... Debaixo das vestes papais.
Na reviravolta da História, Roma, sitiada pelos bárbaros, clamava por uma nova religião que unificasse o Império decadente. O cristianismo, então, nascido no Oriente, assimilaria os ritos romanos, impor-lhe-ia um novo calendário com novos mitos e contribuiria assim para a decadência romana que levaria o Ocidente à Idade das Trevas... Debaixo das vestes papais.
Primeiro dia do ano um de Nosso Senhor Jesus Cristo.
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