segunda-feira, 27 de abril de 2015

E O VERBO SE FEZ CARNE...


Foi nas terras que margeiam os rios Tigres e Eufrates conhecidas como Mesopotâmia, território de muitas disputas e invasões, pois porto generoso para muitos povos nômades que viam em suas terras férteis_ irrigadas por esses grandes rios_  o fim de suas peregrinações e ali tentavam se fixar; que sumérios, caldeus, hititas, babilônios, assírios erigiram seus impérios e os viram desabar. A roda inflexível do tempo, com suas engrenagens lubrificadas pelo sangue de milhares de guerreiros, sempre é alheia a amplidão das conquistas e a intensidade de seus apogeus.
Foi nesse berço do mundo, cenário de antigas civilizações, que os hebreus em debandada _ depois que Ciro II os libertou dos babilônicos_ viram a possibilidade de terminar com suas agonias errantes, unir suas pequenas tribos e orientá-las rumo à Palestina, aonde edificariam uma das mais exuberantes cidades do mundo antigo com o seu suntuoso templo reconstruído: a bela Jerusalém.
Não foi somente a paisagem que o povo hebreu que em nome de Iawhé, na perambulação em busca da terra prometida (a terra de pão e mel), modificou. Aos poucos, no decorrer dos séculos, à medida que moldava a sua própria religião filtrando-a de seus matizes mesopotâmicas e purificando-a com sua fé inquebrantável e fanática abnegação, acabou por disseminar a crença num único Deus às tribos vizinhas e, com o decorrer dos séculos, por grande parte da humanidade. Só uma religião poderia reunir aquele povo rústico e suas tribos nem sempre pacíficas e esboçar os elementos basilares de uma nacionalidade. E assim o fez com toda rigidez, recheada de preceitos morais e jurídicos.
Se tais ordenamentos não tinham a delicadeza filosófica dos gregos, nem a precisão dos códigos romanos, serviu e foi suficiente para preservá-los como nação, mesmo no meio de invasões, jugos e tantas dispersões à que foram submetidos na terra de Canaã.
No entanto, sua crença não passou incólume a ídolos e os teve em diferentes épocas e antes que passassem pelo crivo dos profetas legisladores como Ezequiel, Melquias e Isaías, deuses babilônicos, assírios e divindades caldeias conviveram com Iawhé na mente e no espírito daqueles pastores descendentes de Abraão _ e fizeram parte de seu credo_ mesmo depois que o ensandecido Elias, enfurecido com a idolatria do povo pusesse abaixo a estátua de Baal.
A crença em um Deus, senhor do Bem e do Mal, só aos poucos lhes foi inculcada, tomada de empréstimo da doutrina de Zoroastro da invasora Pérsia já em decadência, que viu sua hegemonia sendo tragada pelos guerreiros gregos. A esperança em um Messias e seu reino não terreno despontaria séculos mais tarde nos passos do mitraísmo, seita também zoroástrica que antes dela também teve o seu crucificado, recepcionou o Império Romano e abriu as portas para Aquele que viria a ser negado pelos próprios judeus.
O espírito guerreiro dos filhos de Davi se sucumbiria diante do conquistador romano _ tripudiado pelas autoridades judaicas_ que temendo represálias e pretendendo manter o que lhe restara de privilégios e preservar o culto e suas sinagogas, renderam-se às exigências de um Império que manteria as tradições dos vencidos em troca da extirpação de qualquer tentativa de emancipação e rebeldia. Porém nem todos aceitaram de bom grado a conivência servil dos fariseus, nem o colaboracionismo dos saduceus. As estradas, então, foram ficando pontilhadas de cruzes, evidenciando que não se deveria duvidar da intolerância romana. Na sua expansão o Império Romano tratava de perpetuar sua dominação sobre os povos dominados em dois sentidos: exigindo obediência e  a submissão guerreira dos adolescentes masculinos dos povos dominados _ raptados de seus pais_ e tirando a virgindade de suas donzelas. O Império assumiria assim total supremacia sobre seus servos, espiritual e geneticamente.
Na reviravolta da História, Roma, sitiada pelos bárbaros, clamava por uma nova religião que unificasse o Império decadente. O cristianismo, então, nascido no Oriente, assimilaria os ritos romanos, impor-lhe-ia um novo calendário com novos mitos e contribuiria assim para a decadência romana que levaria o Ocidente à Idade das Trevas... Debaixo das vestes papais.

Primeiro dia do ano um de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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