terça-feira, 27 de outubro de 2015

À Prole Desdentada


Faróis
desembocam na boca
da noite-metal.
Escorre
nos paralelepípedos
translucidando a claridade noturna
o fétido óleo dos motores
a luzir
estragados
dentes-dinheiro
tragados nos bueiros dos shoppings
pinçados de tuas veias.

Otário proletário_ julgam
os intelectuaisputosburgueses_
quando sorris aos souvenires
que sugam o teu salário-suor
odor da cantilena neoliberal.

À eles
é fácil mutilar
um a um os teus sonhos
enquanto estão a dormir
obscenamente em berço esplêndido.

À ti,
cabe de lá derribá-los
com o ruído de seus reais pesadelos:
aluguéis aviltantes
copos de leite negados
salário-da-morte-mínima
que se escorrega
devagar pelas geladeiras vazias
para o esgoto das ruas quentes de mosquitos.

Vilipendiam-se
na social-demagogia a tua cidadania
Até quando
pagarás sem revolta
o assolamento das epidemias
na sorvida melancolia de seus dias?

agosto/97

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