quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

O LIXEIRO

Homenagem ao amigo Juca e a seu filho
José Marcos (Macao) “in memoria”
Já que estamos em novo ano é importante relembrar os amigos que se foram. Num pequeno e único livro editado postumamente pelos seus pais dá para sentir a delicadeza e profundidade do autor, morto muito jovem , e, com certeza, legaria-nos muito mais: " Talvez ao observarmos situações e objetos, estejamos observando somente uma parte oculta de nós mesmos.
Talvez nos falte isso: olharmos para a vida com a mesma segurança e tranquilidade que muita vezes nos falta, quando olhamos para o nosso íntimo."

Quando nossas ruas e
avenidas interiores ficam desertas
Ele aparece em horas oportunas
com sua pá já acostumada a coletar
os restos deixados; deixados por todos:
Restos de sonhos, restos de ilusões,
Restos de esperanças, restos de vida...
No seu carro se amontoam desordenadamente
palavras estragadas, pensamentos queimados,
rostos rasgados...
As ruas são largas, há muito trabalho.
Trabalhando sem cessar ele vai
limpando aos poucos a grande sujeira
deixada pelos que vivem...
E se espremem planos quebrados,
Amores perdidos, cacos de ideias...
Trabalha por um dia melhor,
Para uma vida melhor...
Ele limpa, mas os restos não se acabam,
Há algum tempo, ele pensa
serem infinitos esses restos;
Bueiros de restos, cestas de amarguras.
A noite segue silenciosa
e com ele, o seu trabalho
coletor de agonias.
José Marcos Reys Cardozo

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