(um
dia no Rio de Janeiro)
Parece
que o dia ontem acordou embaralhado. Foi evidente o quanto ele se
perdeu, tentado a acordar. Espalhou uma preguiceira difícil de ser
contornada. E deixou meu corpo todo mole e dolorido. Acordei sem
saber as horas e o celular se recusava a fazer na única coisa que
ele tem de útil: servir como despertador. Não tive ânimo para sair
da cama e devia, pois as minhas costas ardiam demais naquele colchão,
de repente, tão desconfortável. Apesar de não apreciar remédios,
tomei um anti-inflamatório e procurei voltar a dormir. O que não foi
difícil: voltei a dormir e imediatamente a sonhar. Primeiro aos
poucos, pois minha mente não conseguia definir se eu estava dormindo
ou acordado, cheia de sensações estranhas que me confundiam sobre
se dormia ou não. Quando o sonho aproximou-se do absurdo percebi que
realmente sonhava e, portanto, tinha adormecido mesmo. Há algum
tempo consigo controlar meus sonhos; o que é legal, pois evito assim
de me aprofundar em pesadelos desagradáveis. O ruim disso é que
acabamos acordando de uma maneira abrupta que, quase sempre, nos
impede de dormir de novo e o sono fica sempre fragmentado e acabamos
não descansando de fato. Minha única resolução foi resolver que
não iria trabalhar. Minha cabeça doía muito como se a martelassem
sem dó e de vez em quando pontadas a latejavam. Levantei-me, então,
e fui até a cozinha para comer e beber alguma coisa, foi quando
notei que de novo minha coluna doía na altura dos rins. Foi aí que
ouvi o som que iria me despertar. Que horas seriam, então, quando
dolorido e confuso acordei pela primeira vez? Difícil saber agora.
Voltei para a cama e quase estava cochilando quando minha mulher me
acordou para saber se eu não iria trabalhar. “Não posso,
respondi, não estou me sentindo bem”, e dormi. Depois de sonhos
curtos e incipientes acordei quase onze horas da manhã (com certeza
pelo efeito narcotizante do medicamento). “O dia seria terrível,
pensei, deveria procurar um médico”. Procurar um médico hoje em
dia é algo tão exótico quanto surreal. Dirão que você tem alguma
virose e lhe receitarão um analgésico e repouso. Você melhorará
com certeza, pelo menos até que as dores voltem, mas para isso você
terá que enfrentar longas filas e funcionários mais entediados que
você. E quase sempre, na minha idade, eu sei o que tenho ou pelo
menos, acho que sei. Melhor ficar em casa e esperar a dor passar.
Melhor tomar também uma aspirina para a dor de cabeça. (O
anti-inflamatório deve saber que a missão dele é aliviar a dor
lombar). “Não se automedique”, clama as propagandas
governamentais, como se houvesse médicos a nossa disposição
rápidos e interessados toda vez que acordamos indispostos e
doloridos. “É uma virose”, dirão. (Se você for atendido). Ou:
“Não é nada, apenas uma indisposição passageira”. Quando for
algo grave, morreremos, com certeza.
03/04/12
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