domingo, 21 de agosto de 2016

Ontem Embaralhado

(um dia no Rio de Janeiro)

Parece que o dia ontem acordou embaralhado. Foi evidente o quanto ele se perdeu, tentado a acordar. Espalhou uma preguiceira difícil de ser contornada. E deixou meu corpo todo mole e dolorido. Acordei sem saber as horas e o celular se recusava a fazer na única coisa que ele tem de útil: servir como despertador. Não tive ânimo para sair da cama e devia, pois as minhas costas ardiam demais naquele colchão, de repente, tão desconfortável. Apesar de não apreciar remédios, tomei um anti-inflamatório e procurei voltar a dormir. O que não foi difícil: voltei a dormir e imediatamente a sonhar. Primeiro aos poucos, pois minha mente não conseguia definir se eu estava dormindo ou acordado, cheia de sensações estranhas que me confundiam sobre se dormia ou não. Quando o sonho aproximou-se do absurdo percebi que realmente sonhava e, portanto, tinha adormecido mesmo. Há algum tempo consigo controlar meus sonhos; o que é legal, pois evito assim de me aprofundar em pesadelos desagradáveis. O ruim disso é que acabamos acordando de uma maneira abrupta que, quase sempre, nos impede de dormir de novo e o sono fica sempre fragmentado e acabamos não descansando de fato. Minha única resolução foi resolver que não iria trabalhar. Minha cabeça doía muito como se a martelassem sem dó e de vez em quando pontadas a latejavam. Levantei-me, então, e fui até a cozinha para comer e beber alguma coisa, foi quando notei que de novo minha coluna doía na altura dos rins. Foi aí que ouvi o som que iria me despertar. Que horas seriam, então, quando dolorido e confuso acordei pela primeira vez? Difícil saber agora. Voltei para a cama e quase estava cochilando quando minha mulher me acordou para saber se eu não iria trabalhar. “Não posso, respondi, não estou me sentindo bem”, e dormi. Depois de sonhos curtos e incipientes acordei quase onze horas da manhã (com certeza pelo efeito narcotizante do medicamento). “O dia seria terrível, pensei, deveria procurar um médico”. Procurar um médico hoje em dia é algo tão exótico quanto surreal. Dirão que você tem alguma virose e lhe receitarão um analgésico e repouso. Você melhorará com certeza, pelo menos até que as dores voltem, mas para isso você terá que enfrentar longas filas e funcionários mais entediados que você. E quase sempre, na minha idade, eu sei o que tenho ou pelo menos, acho que sei. Melhor ficar em casa e esperar a dor passar. Melhor tomar também uma aspirina para a dor de cabeça. (O anti-inflamatório deve saber que a missão dele é aliviar a dor lombar). “Não se automedique”, clama as propagandas governamentais, como se houvesse médicos a nossa disposição rápidos e interessados toda vez que acordamos indispostos e doloridos. “É uma virose”, dirão. (Se você for atendido). Ou: “Não é nada, apenas uma indisposição passageira”. Quando for algo grave, morreremos, com certeza.
03/04/12





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