_Quero
vê meu pai "trabaia"! Quero vê meu pai "trabaia!"”. O garotinho
gritava agarrado à saia da mãe. Gritava não em tom de exigência,
mas de incontida alegria.
Não devia ter mais de três
aninhos. O rapaz corou um pouquinho; vergonha, talvez, por perceber
que a atenção de todos voltava-se para ele.
Enquanto se desembaraçava do
avental, disfarçou saindo detrás do balcão e chamou timidamente a
mulher para um canto do supermercado.
O garoto insistia: “Deixa,
pai, deixa”, suplicava, olhando tudo maravilhado. “Não pode
filho. Não deixam entrar lá. Fique quietinho, tá?”_ murmurou a
mulher. O menino, então, contrariado, seguiu a mãe até o local
indicado pelo jovem padeiro, levando consigo o cheiro de sabonete.
Suas roupinhas, uma camiseta listrada, um short vermelho, tênis
marrons; tudo já bem surrados, também cheiravam a coisas limpas,
recém-lavadas.
Poder-se-ia contar sobre essa
cena uma história a respeito desse rapaz que abandonara por
instantes o balcão e fora recepcionar, entre alegre e vexado, a sua
pequena família. Talvez mais uma história entre tantas de uma
família vinda do nordeste, cujo marido encontrara ali, como padeiro,
o primeiro emprego na grande metrópole e neste instante, longe dos
olhos alheios, cautelosamente, entregava à mulher um papelote, com
certeza, dinheiro de seu primeiro salário.
Poderíamos escrever páginas e
páginas de vida com sofrimentos, muitas esperanças e pequenas
alegrias. Poderíamos, sim, mas não seria necessário: os olhinhos
cheios de felicidade do menino, já contavam tudo.
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