sábado, 17 de dezembro de 2016

O Garoto

_Quero vê meu pai "trabaia"! Quero vê meu pai "trabaia!"”. O garotinho gritava agarrado à saia da mãe. Gritava não em tom de exigência, mas de incontida alegria.
Não devia ter mais de três aninhos. O rapaz corou um pouquinho; vergonha, talvez, por perceber que a atenção de todos voltava-se para ele.
Enquanto se desembaraçava do avental, disfarçou saindo detrás do balcão e chamou timidamente a mulher para um canto do supermercado.
O garoto insistia: “Deixa, pai, deixa”, suplicava, olhando tudo maravilhado. “Não pode filho. Não deixam entrar lá. Fique quietinho, tá?”_ murmurou a mulher. O menino, então, contrariado, seguiu a mãe até o local indicado pelo jovem padeiro, levando consigo o cheiro de sabonete. Suas roupinhas, uma camiseta listrada, um short vermelho, tênis marrons; tudo já bem surrados, também cheiravam a coisas limpas, recém-lavadas.
Poder-se-ia contar sobre essa cena uma história a respeito desse rapaz que abandonara por instantes o balcão e fora recepcionar, entre alegre e vexado, a sua pequena família. Talvez mais uma história entre tantas de uma família vinda do nordeste, cujo marido encontrara ali, como padeiro, o primeiro emprego na grande metrópole e neste instante, longe dos olhos alheios, cautelosamente, entregava à mulher um papelote, com certeza, dinheiro de seu primeiro salário.
Poderíamos escrever páginas e páginas de vida com sofrimentos, muitas esperanças e pequenas alegrias. Poderíamos, sim, mas não seria necessário: os olhinhos cheios de felicidade do menino, já contavam tudo.

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