Quando
escrevi a novela " ALFA&OMEGA", em 2001, a manchete do momento era a ovelha
Dolly, um passo quase lógico da fecundação “in vitro” que já
se fizera viável em larga escala para os seres humanos. O avanço dessa tecnologia genética nos levaria ao possível mundo dos clones. Trazia a
clonagem o espanto de ser a primeira experiência com êxito em
animais, entre centenas que não chegaram a vingar, além da
constatação, já esperada, do seu envelhecimento precoce. Depois
disso muitas outras clonagens deste tipo foram realizadas. Na
indagação de nós leigos: o que aconteceria se a inevitável
clonagem humana fosse tentada? Foi nesse clima que a novela foi se
desenrolando. Ela revelou não só meu espanto com a genética como minha resistência de aceitar tais avanços. Espantar-se e se predispor a questionar o que não dominamos faz parte do nosso ser perplexo com um mundo que não conhecemos!
Num artigo recente (2009)
publicado na revista Bioética (vol.17, nº 01), Salvador Darío
BERGEL, _ Diretor de La Cátreda UNESCO, de Bioética em La
Universidad de Buenos Aires, Argentina_ enfoca toda a problemática
envolvida nas pesquisas sobre embriões e denuncia: “Posturas
fundamentalistas acabam por comprometer os direitos dos seres humanos
doentes que poderiam ser beneficiados com os frutos dessas pesquisas
em andamento ou ainda a serem empreendidas”. E pondera: “nem
todas as intervenções do homem na vida, criam Franksteins ou
Golens. Posturas anti-científicas da sociedade, sua resistência as
análises pré-conceptivas, à terapia genética ou investigações
com célula-mãe (ou embrionárias), a criação de embriões para
fins de pesquisas, partem do pressuposto que os homens da ciência
são uma espécie de alquimistas empenhados em criar seres
fantásticos, e não tem outro objetivo a não ser fazer experiências
pelo simples experimentar. Quando contemplam os milagres da
ingerência genética é compreensível que surjam fantasias em
relação ao intercâmbio do material genético,... seja na
manipulação de futuras crianças cujas características físicas,
psicológicas e espirituais fiquem sujeitas à vontade dos pais e a
clonagem humana possa vir a perpetuar a vida de acordo com modelos
pré-concebidos”. Esse era o assunto que a revista punha em discussão em 2009, e a conotação errônea que dei a ele,
em 2001.
Consequência das
discussões que se sucederam e dos avanços científicos da clonagem foi pensar em desistir deste conto ou tentar modificá-lo. Pois,
hoje, esses avanços, que eu simplesmente ignorava, possibilitam oferecer melhor qualidade de vida
aos seres humanos, no sentido de futuros transplantes terapêuticos
sem os riscos de rejeições, terapias genéticas retrativas e o fim
da sujeição do pacientes a filas intermináveis à espera de
doadores de órgãos. Os avanços nesse sentido, em muitos campos da
medicina, são inegáveis e, portanto, inadiáveis.
Ponderei, no entanto, que
apresentá-lo sem alterações não tiraria dele a sua finalidade de
por em baila uma discussão, na época, recente e controversa; nem
seu valor literário, se algum tiver, quanto a ter sido ultrapassado
pelos fatos.
A questão ética quanto à
clonagem humana continuará ainda por muito tempo em evidência,
cabendo todo olhar do mundo que possa, seja em que grau de
intervenção se dê, contribuir sobre um assunto tão desafiador que
possibilitará a humanidade uma estadia mais saudável na Terra e uma
vida mais longa aos seres humanos.
Se ponderarmos que na Idade
Média dificilmente se conseguia ultrapassar a idade de 40 anos e
hoje o homem centenário já bate às nossas portas, com as últimas
descobertas da genética e os avanços científicos delas
decorrentes, até onde nossos netos conseguirão chegar?
O homem imortal pertence ainda
ao reino da fábula, mas não há como não admitir que ele já faz parte do nosso mundo!
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