terça-feira, 4 de outubro de 2016

A célula tronco e o mundo clonado

Quando escrevi a novela " ALFA&OMEGA", em 2001, a manchete do momento era a ovelha Dolly, um passo quase lógico da fecundação “in vitro” que já se fizera viável em larga escala para os seres humanos. O avanço dessa tecnologia genética nos levaria ao possível mundo dos clones. Trazia a clonagem o espanto de ser a primeira experiência com êxito em animais, entre centenas que não chegaram a vingar, além da constatação, já esperada, do seu envelhecimento precoce. Depois disso muitas outras clonagens deste tipo foram realizadas. Na indagação de nós leigos: o que aconteceria se a inevitável clonagem humana fosse tentada? Foi nesse clima que a novela foi se desenrolando. Ela revelou não só meu espanto com a genética como minha resistência de aceitar tais avanços.  Espantar-se e se predispor a questionar o que não dominamos faz parte do nosso ser perplexo com um mundo que não conhecemos! 
Num artigo recente (2009) publicado na revista Bioética (vol.17, nº 01), Salvador Darío BERGEL, _ Diretor de La Cátreda UNESCO, de Bioética em La Universidad de Buenos Aires, Argentina_ enfoca toda a problemática envolvida nas pesquisas sobre embriões e denuncia: “Posturas fundamentalistas acabam por comprometer os direitos dos seres humanos doentes que poderiam ser beneficiados com os frutos dessas pesquisas em andamento ou ainda a serem empreendidas”. E pondera: “nem todas as intervenções do homem na vida, criam Franksteins ou Golens. Posturas anti-científicas da sociedade, sua resistência as análises pré-conceptivas, à terapia genética ou investigações com célula-mãe (ou embrionárias), a criação de embriões para fins de pesquisas, partem do pressuposto que os homens da ciência são uma espécie de alquimistas empenhados em criar seres fantásticos, e não tem outro objetivo a não ser fazer experiências pelo simples experimentar. Quando contemplam os milagres da ingerência genética é compreensível que surjam fantasias em relação ao intercâmbio do material genético,... seja na manipulação de futuras crianças cujas características físicas, psicológicas e espirituais fiquem sujeitas à vontade dos pais e a clonagem humana possa vir a perpetuar a vida de acordo com modelos pré-concebidos”. Esse era o assunto que a revista punha em discussão em 2009,  e a conotação errônea que dei a ele, em 2001.
Consequência das discussões que se sucederam e dos avanços científicos da clonagem foi pensar em desistir deste conto ou tentar modificá-lo. Pois, hoje, esses avanços, que eu simplesmente ignorava, possibilitam oferecer melhor qualidade de vida aos seres humanos, no sentido de futuros transplantes terapêuticos sem os riscos de rejeições, terapias genéticas retrativas e o fim da sujeição do pacientes a filas intermináveis à espera de doadores de órgãos. Os avanços nesse sentido, em muitos campos da medicina, são inegáveis e, portanto, inadiáveis.
Ponderei, no entanto, que apresentá-lo sem alterações não tiraria dele a sua finalidade de por em baila uma discussão, na época, recente e controversa; nem seu valor literário, se algum tiver, quanto a ter sido ultrapassado pelos fatos.
A questão ética quanto à clonagem humana continuará ainda por muito tempo em evidência, cabendo todo olhar do mundo que possa, seja em que grau de intervenção se dê, contribuir sobre um assunto tão desafiador que possibilitará a humanidade uma estadia mais saudável na Terra e uma vida mais longa aos seres humanos.
Se ponderarmos que na Idade Média dificilmente se conseguia ultrapassar a idade de 40 anos e hoje o homem centenário já bate às nossas portas, com as últimas descobertas da genética e os avanços científicos delas decorrentes, até onde nossos netos conseguirão chegar?
O homem imortal pertence ainda ao reino da fábula, mas não há como não admitir que ele já faz parte do nosso mundo!


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