segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O perigo que correm os anjos


Quando a Igreja católica, alguns anos atrás, principalmente nos EUA, virou alvo de denúncias pela prática pedófila de membros do seu sacerdócio (a renúncia de Bento XVI, mais tarde, teve muito haver com tudo isso; além, é claro, dos problemas bancários da santa igreja) e, como nada nos agride tanto quanto a pedofilia, esta na mídia, virou o mal do século. Diante dessas denúncias, o sensacionalismo dos meios de comunicação frusta a nossa tentativa de entender o fato e quase nada nos esclarece e mais: confunde-a com a exploração infantil e o comércio sexual, não poucas vezes até enaltecido pelas novelas televisivas. Tais concepções, ingênuas e a-históricas, leva-nos a perguntar: O por quê?
A pedofilia, sustentam alguns, trata-se de uma doença incurável, difícil de ser tratada, mas possível de ser controlada. Outros, no entanto, dizem que o único método eficaz é castração do indivíduo. Explicá-la nesses termos, também pouco nos esclarece e não nos livra do problema, nem responde a pergunta inicial: Por que nos agride tanto, muito mais que o estupro, por exemplo?
Uma das razões possíveis e talvez a mais visível, na tênue cortina dos padrões morais e éticos que nos envolve, vale dizer: no arcabouço social em que o homem comum poderia vislumbrá-la _mesmo se não a elabore mentalmente_ é o fato de o estupro, como a prostituição estarem ligados às prerrogativas nefastas de uma sociedade machista, gestada instintivamente por ações primitivas do macho. A figura do neandertal arrastando sua fêmea pelos cabelos, mesmo que não seja real, ilustra bem esse ponto de vista, reafirmando a concepção machista da sociedade, onde o estupro é visto apenas como uma distorção sexual/social a ser evitada. O cinismo e o sarcasmo com que a denúncia de estupro é ainda tratada revela o quanto tal crime é negligenciado. E em algumas culturas é até aceito e incentivado. E estamos no século XXI.
Somos, teoricamente, mais pedófilos do que estupradores? Possivelmente não! Porém, a pedofilia tem nuances introspectivos e por isso muito mais perversos; por nos negarmos no espelho _ todos, homens e mulheres_ sentimo-nos em pânico. A linha que divide o amor a nossos filhos e pelas crianças em geral e o abuso ou assédio sexual para com elas é frágil demais para suportarmos. Por isso vemos pedófilos em nossos vizinhos, nos amigos, num parente. Ou seja: todo nosso espaço social pode estar minado. Qualquer denúncia vira pronta condenação na mídia e acintam os vingadores de plantão (Se depois, tais denúncias não passaram apenas de fantasias_ ou pesadelos infantis _ ninguém se preocupará com isso) . O olhar da mídia sobre esse assunto, de uma maneira vulgar e irresponsável, contribui assustadoramente para banalizar um comportamento antissocial que jamais será extirpado de nossa sociedade. E com um agravante, muitas vezes é feito no aconchego do lar e até aceito pelos casais. A criança não tem a quem recorrer. 
Com certeza essas considerações estejam longe de esclarecer alguma coisa ou serem convincentes. Mas essas anomalias não são raras e a mídia e o noticiários populares e de pouco nível (Datenas e Rezendes da vida) reproduzem o modo como é tratado o sexo nos dias de hoje e suas anomalias. Ontem assunto proibido, hoje, banalizado. 


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